Sabendo-se que está dentro de nós o segredo e o potencial para crescer e amadurecer, e adquirir uma vida abundante e feliz, podemos combater a adicção e os pensamentos destrutivos, e conquistar e desfrutar uma sobriedade duradoura. Logo, podemos tornar-nos pessoas de grande autoestima e de expectativas otimistas, e também podemos tornar-nos vencedores.
Quantos conseguem manter-se sóbrios e bem, depois de sua primeira experiência de tratamento? Quantos recaem, mergulhando outra vez na doença e no desespero da adicção? O fato é que a doença é caracterizada pela recaída. Isto é, entre aqueles que tentam sinceramente manter-se sóbrios, através de aconselhamento e grupos, muitos escorregam sem esperança para uma dependência crônica para o uso.
O que acontece? Será que são estúpidos? É pouco provável, pois recuperação não depende de inteligência. Por exemplo, um doutor em Física Nuclear não pode garantir a sua sobriedade, nem se ganhar na loteria ou nem mesmo se for primeiro em todos concursos. Não é a inteligência, a sorte, ou a beleza que nos mantém em recuperação, mas sim as atitudes, elas sim fazem a diferença.
Portanto, continue lendo este artigo e descubra como o pensamento destrutivo impede a recuperação de um adicto!
A atitude é a resposta para a adicção
As atitudes são tanto um caminho para uma recuperação saudável e feliz como o caminho para uma recaída. A ideia é mudar de vida com o poder do pensamento positivo. “Nós tornamo-nos, literalmente, naquilo em que pensamos na maior parte do tempo”.
Infelizmente, aqueles que estão sempre tentando entrar em recuperação e não conseguem sofrem de pensamento destrutivo, e este sentimento é uma má atitude, é ser negativo, é se culpar e estar cronicamente insatisfeito.
As nossas más atitudes podem até enganar a todos, mas a nossa arrogância e o falso orgulho levam-nos a acreditar que os nossos pensamentos e ações destrutivas são tão doces quanto às flores da primavera.
Ou seja, é sempre o outro que está errado! Este é outro elemento do pensamento destrutivo da adicção, tornamo-nos peritos em culpar os outros, enquanto permanecemos cegos aos nossos próprios defeitos.
Contudo, o pensamento destrutivo é um dos maiores sintomas da doença. Todos nós sofremos disso uma vez ou outra. O pensamento destrutivo pode acabar com nossa recuperação, mesmo quando sóbrios. uma vez que quem escorrega para uma recaída crônica é um pensador destrutivo por excelência.
Portanto, devemos examinar nosso pensamento: será a nossa atitude positiva e construtiva? Praticamos o pensamento destrutivo? Estamos pendurados na recuperação com os dentes cerrados e com a infelicidade violenta?
Isto é, para ter uma recuperação bem sucedida e para nos sentirmos bem mentalmente e fisicamente, precisamos ter as cabeças no lugar com o pensamento claro e racional.
Para conseguirmos isto temos que reconhecer nossos padrões de pensamentos destrutivos e aprender maneiras de transformá-los em padrões positivos.
Existem quatro denominadores comuns que parecem caracterizar as pessoas que voltam ao uso, e estas quatro atitudes podem aparecer em qualquer período, mesmo depois de vários anos de sobriedade, tendo um papel primordial durante os primeiros meses críticos.
Atitudes negativas que impedem a recuperação da adicção
Estas atitudes são muitas vezes a causa da recaída durante o primeiro ano após o tratamento. Uma pessoa pode terminar o tratamento de recuperação com êxito e mesmo assim continuar tendo um pensamento destrutivo. O tratamento é apenas o começo da recuperação. A recuperação é um processo pro resto da vida. A recuperação é dinâmica, é mudança, crescimento e amadurecimento.
Vamos olhar mais de perto para as atitudes negativas que podem impedir a nossa recuperação de seguir no bom caminho.
Adicção: Conversa fiada (papo furado)
Isto é um exemplo muito importante do pensamento destrutivo: fazer afirmações que não são sinceras. Muitas vezes até desejamos que nossas palavras sejam verdadeiras, mas não conseguimos e a conversa de nada vale. A recuperação exige ação! Mudança! Compromisso! Trabalho!
O papo furado é perigoso para nossa recuperação, porque somos suficientemente ingênuos para acreditar que ao repetir as palavras certas podemos substituir o trabalho doloroso e difícil de olharmos para dentro de nós mesmos e mudarmos as crenças e comportamentos que tornaram nossas vidas desgovernadas.
Certas frases feitas são características da conversa fiada:
- Prometo não fazer mais isso;
- Acho que agora aprendi a lição;
- Eu acho os grupos legais, mas..;
- Sei que nunca mais vou beber;
- Eu vou deixar de (fumar, dirigir sem carteira, comer porcarias, etc.) assim que..;
- Farei tudo o que disser, desde que (não me despeça, não me meta na cadeira..);
Lembre-se: normalmente acreditamos na nossa conversa fiada. Continuidade é o que distingue a falsidade do papo furado, a sinceridade do verdadeiro compromisso com a recuperação.
Devemos fazer-nos as seguintes perguntas:
- Realmente faço a lista das coisas que devo fazer e melhorar, ou falho no que tenho na lista?
- No meu íntimo acredito que embora outros adictos precisem de um programa de recuperação, esse programa não se aplica à minha situação?
- Digo frases sobre a minha recuperação na esperança de ganhar a aprovação das pessoas que não me consideram?
- Faço promessas para melhorar o meu comportamento e essas promessas nunca se realizam?
Se a resposta é sim, mesmo que seja para uma destas perguntas, estamos sabotando nossa recuperação ao entrarmos na conversa fiada, caminhando para a adicção, querendo agradar os outros.
A chave da conversa fiada é a insinceridade. Continuamos enganando os outros e a nós mesmos.
Adicção: Grandiosidade
É outro lado da baixa autoestima, caracterizado por um sentido exagerado do “eu”, e aqueles que sofrem disso possuem um sentido embaraçosamente irrealista de sua impotência, talentos e habilidades.
A adicção nos faz achar que as pessoas são estúpidas para reconhecerem a nossa insinceridade e isso nos leva a continuar com a conversa fiada.
Grandiosidade é acreditar que podemos continuar andando com velhos amigos da ativa sem recair, é acreditar que os outros precisam de grupos, mas nós não precisamos, é acreditar que somos melhores, mais espertos ou dignos. Grandiosidade é pensamento destrutivo.
Devemos pôr-nos as seguintes questões:
- Pretendo frequentar bares porque sei que sou suficientemente forte para não ser tentado a beber outra vez?
- Provavelmente posso voltar a beber em sociedade ou usar outras drogas moderadamente se eu quiser?
- Penso que todas essas reuniões de Doze Passos e sessões de acompanhamento são tempo perdido e não valem a pena?
- Será que estar rodeado nos grupos por muitos recaídos me dá arrepios?
Se respondermos sim, mesmo que seja uma vez, estamos sabotando nossa recuperação com uma grandiosidade irrealista. É um paradoxo, mas os adictos podem ser grandiosos mesmo sofrendo um complexo de interioridade. Dependendo de como nos sentimos e da situação, oscilamos entre o falso orgulho e um ego inchado de grandiosidade a uma depressão destruidora e uma baixa autoestima.
Com baixa autoestima nos viramos para dentro, e com a grandiosidade, visamos o exterior, as pessoas e as regras da sociedade e da natureza. Quando começamos a pensar que as regras não são para nós, desenvolvemos outro problemas de atitude.
Adicção: Facilitar
É sábado e o sol brilha, os pássaros cantam e está um lindo dia. Então que mal faz não ir a uma reunião de acompanhamento no centro de tratamento? Será que aconteceu alguma coisa de mau por não termos ido a reunião semana passada? Qual a importância do acompanhamento?
A importância é que o sucesso da nossa recuperação depende exclusivamente do nosso empenho em continuarmos ativos no nosso “acompanhamento”. Quando começamos a falhar ao que está marcado, a fugir de reuniões e a arranjar desculpas, estamos começando a facilitar.
Facilitar é uma forma de enganar. Começa devagar, mas pode rapidamente tornar-se uma recaída total e a volta à adicção ativa. As primeiras mentiras parecem pequenas e inocentes, de modo algum preocupam. Sempre existe uma boa explicação para o nosso desvio. A menos que reconheçamos o facilitar como o pensamento destrutivo que é, ele inevitavelmente nos conduzirá ao desastre.
Devemos perguntar-nos:
- Deixei de ir ao grupo porque estava cansado ou ocupado, ou porque achei que estava bem e não precisava?
- Fiz uso, ainda que tenha sido só uma vez?
- Estou ignorando alguma instrução do meu conselheiro ou do meu médico no que diz respeito à dieta, exercício, controle do estresse, trabalhar em casa, porque é muito trabalho?
- Deixei de fazer o meu inventário diário ou evitei ter uma ação positiva para corrigir os meus defeitos?
Se respondermos positivamente ao menos uma dessas perguntas, estamos negligenciando nossa recuperação por facilitarmos. A chave do facilitar é desculpar-se.
Podemos tornar-nos peritos em combinar conversa fiada, grandiosidade e facilitar para formar uma péssima atitude que coloca a perigo a nossa recuperação. Um exemplo do nosso pensamento negativo pode soar assim: “Penso que os grupos são formidáveis (conversa fiada), mas não sou do tipo que precisa desse apoio do grupo para manter em pé (grandiosidade). Além disso, preciso de todo meu tempo para estar com a família, para compensá-los do abandono de quando fazia uso (arranjando desculpas)”.
No decurso normal dos acontecimentos, a família e os amigos começarão a notar o “facilitar” e ficarão preocupados, censurando-nos. Isto fará com que apareça a nossa rebeldia.
Adicção: Rebeldia
Os adictos são um grupo rebelde. Não suportamos que nos digam o que fazer. Parece que temos uma tendência para resistir e opormo-nos à autoridade. E para nós, a autoridade pode ser qualquer um que tente influenciar nosso comportamento.
Talvez a nossa rebeldia provenha da nossa grandiosidade, pois queremos ter sempre razão. A nossa grandiosidade engana-nos, fazendo-nos acreditar que temos todas as respostas, se todos fizerem as coisas a nossa maneira.
Claro que nem sempre mostramos a nossa rebeldia. Podemos mostrar-nos perfeitamente agradáveis e alegres por fora, mas por dentro estamos tramando alguma coisa para virar a situação e fazermos exatamente o que nos convém.
Por causa da nossa rebeldia e grandiosidade, não somos muito bons em receber sugestões sobre o programa de pessoas que poderiam nos ajudar.
Deveríamos perguntar-nos:
- Sinto-me como se as outras pessoas estivessem sempre tentando governar a minha vida?
- Faço promessas para melhorar o meu comportamento, quando na verdade não tenho intenção nenhuma de mudar?
- Será que às vezes penso que o conselheiro ou o terapeuta é doido ou pior ainda?
Se a resposta for afirmativa para ao menos uma dessas perguntas, estamos sabotando nossa recuperação com rebeldia. A chave da rebeldia é a imaturidade. Em muitos aspectos somos como crianças grandes.
Queremos ser o centro das atenções e que nossas necessidades sejam atendidas. Ficamos zangados e ressentidos quando as pessoas não procedem como nós queremos. Rebeldia é querer ter o controle do irreal.
Estamos tão ocupados em tentar controlar e mudar os outros de um modo arrogante, que não temos a energia ou visão necessária para mudarmos a nós mesmos e ao nosso pensamento destrutivo causado pela adicção.
Concluindo
Estes quatro desvios de comportamento promovem crenças destrutivas que podem tornar nossas vidas desgovernadas e infelizes mesmo quando estamos sóbrios. Mas podemos mudar! Podemos desafiar o nosso pensamento e comportamento destrutivo e aprender novas e saudáveis respostas à vida.